Desporto é festa, não violência: o jogo começa no respeito

É urgente mudar a cultura desportiva nos campos e pavilhões. A responsabilidade é de todos nós: clubes, pais, associações e comunidade.

No jogo entre o S.C. Braga e a A.F.S., o clube bracarense, em parceria com a PSP, promoveu uma “campanha de sensibilização junto dos adeptos, apelando a comportamentos responsáveis”. Uma mensagem clara e necessária: o desporto deve ser vivido num clima de festa, respeito e celebração, não como palco de rivalidades extremas ou de violência gratuita. 

Esta iniciativa merece ser destacada e replicada. É uma prova de que é possível unir esforços entre entidades desportivas e forças de segurança para educar, prevenir e envolver a comunidade num compromisso coletivo com o fair play. Mas estas ações precisam de continuidade. Precisam de chegar aos escalões de formação, onde estão as crianças e os jovens que serão os atletas — e cidadãos — de amanhã.
 

É precisamente nesse contexto que os pais e encarregados de educação desempenham um papel decisivo. Muitas vezes, são os próprios adultos que, a partir da bancada, dão os piores exemplos. Insultos a árbitros, provocações a outros adeptos, pressão excessiva sobre os filhos. Como podemos esperar comportamentos corretos das crianças, se os adultos à sua volta não refletem os valores que o desporto deveria promover? 

Volto a este tema porque os episódios lamentáveis continuam a somar-se. Há cerca de um mês, num jogo de futebol da AF Braga, e mais recentemente, num jogo de futsal da AF Porto, registaram-se agressões que foram amplamente divulgadas, graças a imagens que as comprovaram. Mas e todas as situações que ocorrem longe das câmaras, nos recintos onde não há filmagens, e que passam impunes? Quantas vezes a violência fica por denunciar, por medo ou normalização? 

Não podemos continuar a reagir apenas quando há vídeos virais. Precisamos de uma mudança estrutural e de uma nova cultura desportiva, centrada na formação, no respeito mútuo e na responsabilização. Urge investir em ações de sensibilização, em formação contínua de treinadores, árbitros e dirigentes, e em estratégias de envolvimento com a comunidade local. Os clubes, as associações distritais e as autarquias têm aqui um papel fundamental. 

Importa também valorizar e proteger todos os que, com dedicação e muitas vezes de forma voluntária, fazem o desporto acontecer ao fim de semana — árbitros, treinadores, dirigentes e demais agentes desportivos. São frequentemente alvo de críticas e agressões, quando deveriam ser reconhecidos pelo seu contributo. Sem eles, os campeonatos não existiriam. Criar condições para que exerçam as suas funções com dignidade e segurança é uma obrigação de todos nós. 

O desporto tem um enorme poder transformador. Pode unir, inspirar, ensinar. Mas, para isso, tem de ser vivido com civismo, paixão e empatia. Tem de ser seguro para todos — atletas, árbitros, treinadores e famílias.

É tempo de agir com coragem e compromisso. De pensar no legado que queremos deixar às novas gerações. De garantir que os campos e pavilhões são espaços seguros e formativos. Porque o desporto não pode ser um lugar onde se cultiva o ódio, mas sim onde se celebra a paixão, o respeito e o crescimento. 

Todos temos um papel a desempenhar. E o apito inicial está nas mãos de todos nós. 

Boa Páscoa!

Fernando Arménio Silva

Vice-Presidente da Associação de Futebol de Braga