Taça AF Braga: Uma Final Improvável em Palco de Excelência
Artigo de Opinião do Vice-Presidente Miguel Azevedo publicado hoje no Correio do Minho.
04 maio 2025
Artigo de Opinião
A Taça da Associação de Futebol de Braga entra na sua reta decisiva, com as meias-finais definidas: CD Celeirós – GD União Torcatense e SC Ucha - São Paio d'Arcos FC. Quatro equipas de mérito, quatro histórias distintas, mas todas movidas pelo mesmo sonho: marcar presença na grande final que, este ano, regressa ao Estádio Cidade de Barcelos, oito anos depois. Um palco digno da importância e tradição desta competição.
Criada na temporada 1963/64, a Taça AF Braga é uma das provas mais emblemáticas do futebol distrital português, com um modelo semelhante ao da Taça de Portugal — eliminatórias diretas até à final. Nas suas primeiras edições contou até com clubes que militavam nos campeonatos nacionais, o que explica a presença de nomes como Vitória SC, FC Vizela ou GD Riopele entre os vencedores. Com o tempo, a prova passou a ser exclusiva para os clubes dos quadros distritais da AF Braga, mas sem nunca perder o prestígio. Já foi organizada 56 vezes, sendo Vilaverdense FC e Vieira SC os mais titulados, com cinco e seis trofeus respetivamente. Em 2019/20, a edição não foi concluída devido à pandemia. E há precisamente 50 anos, o vencedor foi o histórico SC Maria da Fonte que festeja este ano 100 anos de história.
Este ano, o equilíbrio reina. Duas equipas do Campeonato Pró-Nacional (Celeirós e S. Paio d’Arcos) enfrentam duas da Divisão de Honra (Ucha e Torcatense), numa configuração que mostra bem a competitividade da prova. E há mais um dado curioso e revelador: os quatro semifinalistas representam diferentes zonas do distrito. Dois clubes são do concelho de Braga (Celeirós e S. Paio d’Arcos), um de Guimarães (Torcatense) e outro de Barcelos (Ucha). Uma diversidade que ilustra bem a vitalidade e o equilíbrio do nosso futebol distrital.
O SC Ucha, que já sabe o que é vencer esta competição — fê-lo na época 2000/2001 — chega às meias-finais como uma das boas revelações, demonstrando consistência e ambição. Enfrentará o S. Paio d’Arcos, que também provou ter argumentos para discutir a presença na final. Do outro lado, o Torcatense, também ele vencedor da Taça em 2002/2003, traz consigo essa experiência e uma história de 97 anos, ainda que o peso da memória não substitua o desempenho em campo. Pela frente terá o CD Celeirós, que, apesar de nunca ter vencido a prova, tem-se mostrado uma equipa sólida e extremamente competitiva nesta edição.
As meias-finais, jogadas a duas mãos, vão exigir não só qualidade técnica, mas também maturidade tática e resiliência. Os treinadores terão tempo para preparar, corrigir e surpreender. A ambição será comum: escrever uma nova página dourada na história do clube e garantir presença na final de 10 de junho.
E não é apenas o troféu em disputa. O vencedor da Taça da AF Braga disputará a Supertaça frente ao campeão do Campeonato Pró-Nacional, o já conhecido CD Celoricense— um jogo de prestígio regional — e garantirá o apuramento para a Taça de Portugal 2025/26, entrando no radar do futebol nacional. Uma oportunidade única de projeção e reconhecimento para qualquer clube distrital.
O regresso da final a Barcelos, após sete anos de interregno, é um prémio não só para os finalistas, mas também para a competição em si. É o reconhecimento do seu valor e do esforço das dezenas de clubes que ano após ano alimentam a alma do futebol bracarense.
Este ano, e à semelhança dos últimos anos o jogo terá um simbolismo especial: a final da Taça da AF Braga marcará o encerramento oficial da época desportiva distrital, e será a ponte perfeita para o arranque do Mundial de Clubes, que começa apenas quatro dias depois, com representação portuguesa. Do futebol distrital de Braga ao palco mundial, o futebol português volta a mostrar a sua riqueza — da base ao topo.
A Taça da AF Braga é, por tradição, a competição do imprevisto, do sonho dos pequenos, da glória possível num só dia. É, acima de tudo, a prova onde “David pode vencer Golias”. A prova: “tomba gigantes”. No entanto, quando se chega às meias-finais, o formato muda: dois jogos, casa e fora. E a pergunta impõe-se — faz sentido? Ou estaremos a esvaziar aquilo que distingue a Taça de todas as outras provas?
Talvez este seja também o momento certo para lançar a reflexão: fará sentido manter as meias-finais da Taça da AF Braga em dois jogos? Não retira isso o espírito imprevisível e apaixonante que carateriza uma verdadeira "prova rainha"? A discussão fica em aberto — porque o futebol distrital também se constrói com diálogo, ideias e evolução.
Miguel Azevedo | Vice-Presidente da A.F. de Braga