Formar para o Futuro: O Papel dos Árbitros no Futebol

No exercício das funções que desempenho como dirigente da Associação de Futebol de Braga, tenho centrado os meus contributos, especialmente em artigos de opinião, no tema da formação. Contudo, após alguma reflexão, optei desta vez por abordar uma área igualmente importante e muitas vezes controversa: a arbitragem. Ou melhor, os árbitros, numa visão construída ao longo de duas décadas de convivência direta com este setor, nos dois principais escalões do futebol profissional português. Esta abordagem insere-se, aliás, no mesmo âmbito da formação, já que formar árbitros — em competências técnicas, humanas e éticas — é também formar o futebol.

A arbitragem é parte essencial do jogo. Ainda que, em teoria, o futebol possa decorrer sem árbitros, na prática a sua presença garante justiça, ordem e respeito. Mais do que aplicar regras, os árbitros são modelos de conduta e comunicação.

Reconheço que este é um tema sensível. Conheço bem a realidade da arbitragem e respeito profundamente os que a ela se dedicam. Ainda assim, sinto que devo partilhar experiências que contribuam construtivamente para uma arbitragem mais próxima do espírito do jogo.

Num recente jogo interassociações de Sub-13, ouvi um jovem árbitro dizer, em tom ríspido: “Não estou para vos aturar hoje, vou apitar de maneira diferente.” Comentários como este, num contexto formativo, são inaceitáveis. O árbitro deve ser também um educador, um exemplo para os jovens atletas.

Nas últimas semanas, o Conselho de Arbitragem da FPF promoveu jornadas com vista à uniformização de procedimentos e à criação da figura do Diretor Técnico de Arbitragem, a nível nacional e distrital. Este é um passo decisivo para garantir maior coerência e qualidade na formação dos árbitros.

Mais do que a formação técnica, é urgente investir na vertente comportamental e emocional. A forma como o árbitro comunica, gere conflitos e se relaciona com os intervenientes tem impacto direto no ambiente do jogo e na perceção de justiça.

Acredito que os conselhos de arbitragem, incluindo o da nossa associação, estão genuinamente empenhados em dignificar o futebol português. Esse compromisso exige, contudo, uma valorização plena do árbitro, não só como conhecedor das regras, mas como exemplo de conduta dentro e fora de campo.

A qualificação integral dos árbitros é essencial para um futebol mais justo e credível. Árbitros tecnicamente competentes, emocionalmente equilibrados e eticamente íntegros elevam a qualidade das competições e enriquecem a experiência de todos. Se continuarmos a investir com convicção na sua formação global, estaremos a construir um futebol mais humano, justo e fiel aos seus valores mais nobres.

Termino esta breve reflexão com uma citação partilhada pelo árbitro internacional Luís Godinho, num dos seus “post”: “Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos”, atribuída a Pitágoras. Esta mensagem encerra, de forma simples e profunda, a importância da formação desde a base — não apenas no futebol, mas na vida. Que saibamos, todos, investir no desenvolvimento integral das novas gerações, para que o futuro do jogo reflita os valores que verdadeiramente o dignificam.

Fernando Arménio Silva

Vice-Presidente da Associação de Futebol de Braga