Perante estudantes dos cursos superiores de desporto e educação básica, a Associação de Futebol de Braga, no âmbito do Projeto Crescer2024 e do Programa de Comemorações do seu Centenário, promoveu, esta manhã, o Fórum Dar Voz ao Feminino no IESF - Instituto de Estudos Superiores de Fafe.  

Na sessão de abertura, Manuel Machado, Presidente da AFBraga, deixou o desafio “precisamos recuperar o tempo perdido. Durante décadas a mulher foi vista e tratada como sendo inferior. O futebol feminino deve também servir para trabalhar no sentido de uma efetiva igualdade de género”. 

Sofia Teles, Diretora de Competições e Seleções da AF Porto, José Amorim, Diretor do Futebol Feminino AFBRAGA, e Estrela Paulo, Professora e Fundadora da TopBaller Sports Management, agência de promoção e agenciamento de carreiras desportivas, foram os convidados do primeiro painel dedicado ao tema "Desenvolvimento do Futebol Feminino no Distrito e no País" moderado pelo jornalista Carlos Costinha. Portugal tem hoje 12000 atletas federadas tendo quase duplicado o número de atletas desde 2011. 

“Nos últimos anos houve uma grande alteração da percepção das jogadoras. As medidas adotadas desde 2015 têm tido real impacto. Na época 2015/16 a criação da Liga Alliance mudou o paradigma. Clubes com maior expressão e maior massa adepta, as transmissões televisivas e os bons resultados da nossa Seleção Nacional, permitiram mudar a forma com a sociedade vê o futebol feminino. Agora é preciso alargar a base e apostar nos escalões de formação para aumentar o número de atletas. Na AF Porto, abrimos este ano pela primeira vez três escalões à semelhança do que faz a AF Braga. Acreditamos que o caminho é esse. Aumentamos 60% o número de equipas quando comparado com 19/20.”, afirmou Sofia Teles. 

José Amorim falou do trabalho desenvolvido pela AF Braga para sensibilizar os clubes para a aposta no feminino “Reconhecemos que a aposta deve ser na base mas queremos que os Clubes arranquem. Alguns clubes começaram pelas seniores, não é ideal mas o importante é começar! A aposta que fizemos com o projeto de futsal no 1º ciclo serve exatamente para apoiar o recrutamento na base. Para que as meninas experimentem a modalidade cedo e possam apaixonar-se por ela e depois prosseguir. Hoje temos 3 competições – sub13, sub15 e sub17 e acreditamos que será possível em breve alargar a oferta competitivaAlguns Clubes ainda continuam a tratar o feminino como o parente pobre. O que é uma pena. Porque é no feminino que temos a maior possibilidade de crescimento. As nossas Seleções Distritais têm alcançado feitos notáveis com vitórias nacionais, servindo de montra do bom trabalho feito a nível distrital, pelos nossos clubes ”.  

Têm sido dados passos pequenos mas determinantes. Antes do boom do futebol feminino houve o boom do futsal feminino. Na altura os pais deixavam com maior facilidade as meninas jogarem futsal em vez de futebol porque as sentiam mais protegidas na modalidade de pavilhão. Hoje o futebol feminino cresceu. Já há contratos de formação. Já há investimento nas carreiras. Agenciar meninas é muito diferente de agenciar meninos. Os valores envolvidos são muito diferentes mas estamos a fazer um caminho caminhando” completou Estrela Paulo. 

Sofia Teles reforçou a importância da profissionalização “Temos que começar a profissionalizar o futebol feminino. Quanto mais tempo demorarmos a profissionalizar, maior será o fosso. O tempo não para e precisamos andar mais depressa. Precisamos ainda trazer mais mulheres para o futebol, não só para o feminino, para o futebol.” 

 O segundo painel sobre “Treino e Saúde da Atleta Feminina” contou com o treinador do SC Braga, André Lopes, e com a Médica Especialista do FC Famalicão, Dra Marta Pinto.  

Quando questionado sobre as diferenças no treino de atletas masculinos e femininos, André Lopes afirmou “No SC Braga o treino feminino é igual ao masculino. Não há diferenças entre o plano de exercícios para os atletas masculinos e para os femininos. As atletas crescem na adversidade por isso procuramos criar competitividade. É preciso apostar na competitividade das provas porque essa competitividade ajuda as atletas a evoluir mais rapidamente” e enalteceu a tenacidade das atletas femininas “As meninas são mais focadas porque sabem que é possível alcançar patamares elevados. Temos muitas meninas a chegar de forma natural às Seleções distritais e até às Seleções Nacionais. As minhas atletas querem muito provar o que valem e provam. Pedimos muito à atleta que não esconda a dor, são muito resilientes e determinadas e não querem falhar treinos ou jogos”. 

Dra Marta Pinto defendeu “Acredito que o treino só é igual no masculino e feminino porque não há estudos sobre a prevenção da lesão, sobre as diferenças de resposta ao treino de uns e outros. Nós trabalhamos no feminino com dados do masculino. É preciso haver mais investigação. Acredito que clubes de elite, internacionais, terão acesso a dados que ainda não temos, a estudos que ainda não estão publicados, e adaptam-se com base nesse conhecimento. É importante olhar para a saúde da atleta com atenção, para a nutrição, para o bem-estar, muitas vezes o segredo do sucesso está aí”.  

Quanto a lesões, a Dra Marta Pinto explicou que “Há lesões mais prevalentes no feminino como as contusões e há diferenças nos tempos de recuperação. Fatores hormonais, psicológicos, entre outros, podem influenciar na recuperação mas não estão muito estudados. É preciso investir no estudo para melhorar a resposta dos departamentos médicos e melhorar o acompanhamento médico desde a formação para evitar problemas maiores no futuro”. 

Dra Marta defendeu ainda “a importância da formação de treinadores para formar, não só a nível técnico mas também prático e físico”.  

O último painel, dedicado à “Gestão de Carreira” deu voz às atletas Odete Rocha do Grupo Nun’alvares Futsal e Telma Pereira do FC Famalicão. As atletas falaram dos seus percursos académicos paralelos à vida desportiva e da tomada de decisão em diferentes momentos da carreira. “A decisão mais difícil foi quando deixei o Sporting para ir para Itália. Já tinha terminado o 12º ano mas ir sozinha para um país diferente foi complicado. O apoio dos meus pais foi fundamental. Hoje estou feliz no Nun’Álvares”, referiu Odete Rocha. 

Telma Pereira que trocou o futsal pelo futebol mostrou-se feliz com a decisão e determinada a continuar a conciliar a vida académica com a vida desportiva. “Estudo Engenharia de Gestão Industrial, estou a completar o meu mestrado, e jogo, ao mais alto nível, no Futebol Clube de Famalicão. Estou muito feliz. Quero continuar a investir nas duas carreiras.” 

Quando questionadas se o futebol continuará a fazer parte das suas vidas profissionais após o término da carreira, as respostas foram muito diferentes. Odete quer ser treinadora profissional enquanto que Telma prefere exercer a profissão que está a estudar e ter o futebol como um hobbie.