A Convergência Entre Futebol real e o Futebol virtual: Da UEFA à AF Braga
Artigo de Opinião do Vice-Presidente Miguel Azevedo publicado hoje no Correio do Minho.
25 maio 2025
Artigo de Opinião
A Convergência Entre Futebol real e o Futebol virtual: Da UEFA à AF Braga
Num mundo cada vez mais virtual, a interseção entre o futebol real e o virtual deixou de ser uma mera curiosidade para se tornar uma realidade incontornável. O que começou como uma iniciativa pontual, movida pelo entusiasmo dos jovens e pela inovação tecnológica, hoje é uma estratégia clara, adotada por instituições tão distintas quanto o organismo máximo do futebol europeu, a UEFA, que foi pioneira ao lançar competições oficiais de eFootball. Estas competições não só atraem milhares de espectadores online como também envolvem federações nacionais e jogadores profissionais, criando uma nova camada de identidade e representação. Esta aposta não surge do acaso: a UEFA reconhece que a ligação emocional dos adeptos ao desporto está a migrar, em parte, para o ambiente virtual. E, num contexto em que captar e manter o interesse das novas gerações é fundamental, ignorar os eSports seria um erro estratégico.
Mas o mais interessante é perceber que essa tendência não fica confinada aos grandes palcos europeus. Em Portugal, por exemplo, várias associações distritais já iniciaram as suas próprias ligas de futebol virtual. Estas iniciativas têm o mérito de aproximar os clubes das suas comunidades, promovendo a inclusão digital e mantendo a relevância entre os jovens, muitos dos quais têm mais contacto com consolas do que com chuteiras.
A integração de futebol virtual ao nível distrital ainda está a dar os primeiros passos, mas os sinais são claros: ela tem o potencial de revolucionar a forma como os clubes operam, atraem jogadores, adeptos e eventualmente receitas. A chave para o sucesso dessa integração reside em não ver os eSports como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade de evolução e de criar novas formas de conectar o futebol com as futuras gerações de adeptos. Ao adotar os eSports, os clubes podem oferecer uma experiência desportiva mais rica e diversificada, onde a competição física e a competição virtual coexistem e se reforçam mutuamente. Além disso, a possibilidade de desenvolver jogadores não só no campo, mas também no ambiente digital, abre uma nova porta para o desenvolvimento de talentos.
Outro ponto positivo dessa convergência é o potencial para a inclusão social e diversidade no futebol distrital. Os eSports têm a capacidade de envolver pessoas de diversas idades, origens e condições, o que pode ser um atrativo para públicos diversos. Essa inclusão pode estender-se ao feminino, que, apesar do significativo aumento do número de praticantes, historicamente, têm menor representação no futebol real, mas têm-se destacado também nos desportos digitais. Criar programas de incentivo para essas faixas de público pode ser uma forma eficaz de fortalecer o futebol distrital como uma comunidade inclusiva, moderna e representativa da sociedade.
Braga não pode ficar para trás — e deve, até, alinhar-se na frente no desenvolvimento destas competições. Aproveitar sinergias entre a capacidade tecnológica do distrito, através das suas instituições de ensino superior com pergaminhos na área das novas tecnológicas, e o know-how da Associação de Futebol de Braga na organização de competições, representa uma oportunidade única. No nosso distrito estão reunidas todas as condições para criar uma superliga virtual de referência nacional, que não só promova a inovação regional, como também posicione Braga como um laboratório vivo na interseção entre desporto tradicional e desporto eletrónico.
Os clubes e as associações devem evitar ver os eSports apenas como uma fonte de rendimento ou de marketing. Para que esta convergência seja autêntica e duradoura, é
essencial que exista um investimento real na formação, na ética competitiva e na criação de oportunidades. Só assim os eSports podem cumprir o seu potencial como extensão complementar e enriquecedora do futebol real.
A convergência entre futebol e eSports não é uma ameaça ao jogo "de verdade", mas sim uma evolução natural da sua expressão cultural. Da UEFA às Associações distritais — e com Braga bem posicionada para liderar — estamos a assistir a um fenómeno que não é apenas tecnológico, mas profundamente social. Cabe às instituições perceberem que, hoje, o campo de jogo também tem lugar no digital — e que quem souber jogar bem nos dois terrenos será o verdadeiro vencedor.
Miguel Azevedo | Vice-Presidente da A.F. de Braga